Muitas notícias sobre os avanços da inteligência artificial levam a entender que estamos no início da descoberta do poder dessa tecnologia, mas, por décadas, cientistas vêm aprimorando seus algoritmos e tornando-os realidades viáveis. Na última década, principalmente, isso tem sido cada vez mais possível por conta do acesso a um grande volume de dados e poder de processamento.
Essa fase de descobertas foi dominada basicamente por americanos, canadenses, ingleses e russos, dessa forma, eles podem ser considerados os criadores da inteligência artificial. Recentemente, publiquei um texto falando sobre a democratização da inteligência artificial, que você pode acessar clicando aqui.
Mas essa jornada está somente no começo, entramos agora na era da implementação. Essa nova etapa está aberta para todos e terá um impacto enorme na economia e principalmente nos empregos. Mas é essencial que líderes e executivos, não somente de Tecnologia da Informação, estejam alertas a fatores importantes.
Inteligência artificial e a empregabilidade
Sempre que uma tecnologia é inventada, colocamos alguns empregos em risco e querer barrar essas inovações pensando nos trabalhos é um erro que só coloca um obstáculo na evolução quase “natural” das coisas.
Mas no caso da inteligência artificial, não são apenas empregos que estão em jogo, mesmo que eles sejam importantes e extremamente relevantes quando se trata de IA, pois se pensarmos que os automóveis autônomos são cada dia mais viáveis, podemos imaginar a quantidade de pessoas que perderão seus empregos no futuro e esse é apenas um exemplo simples para entender o impacto.
No caso, quero alertar sobre a inteligência, ou melhor, a propriedade intelectual das empresas. Essa que é uma das mais valiosas matérias-primas atuais no mundo dos negócios.
Formar, preparar e incentivar a criação de mais propriedade intelectual baseada em inteligência artificial é necessário e isso somente será possível com a atuação das pessoas. Portanto, estamos falando mais uma vez de empregos que irão mudar de lugar.
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Quem serão os líderes mundiais na IA?
A China pouco participou da era de pesquisa da IA, mas já acordou para a era da implementação, seja por conta de sua conhecida rede social ou pela industrialização de dispositivos que utilizam a inteligência artificial.
É certo dizer que nossos amigos chineses perceberam que são uma “máquina de gerar dados”, com seus 1,38 bilhões de habitantes e negócios da indústria que foram alimentados por tecnologias provenientes de todo o mundo há décadas.
Isso mesmo! A China aprendeu com o mundo inteiro, desde o momento em que começou a receber demandas por produção, em princípio sem valor agregado, de marcas de todo o planeta.
Aprender com as tecnologias do mundo e ter um senso apurado de oportunidade permitiu aos chineses “virar a mesa” quando se fala de tecnologias aplicadas à inteligência artificial. Hoje, a China desponta como líder em tecnologias para reconhecimento de face, por exemplo, além de diversas outras ligadas à IA.
Um mercado que pode ter a participação do Brasil!
A PricewaterhouseCoopers (PwC) estima que a implantação da IA adicionará 15,7 trilhões de dólares ao PIB global até 2030, ou seja, uma oportunidade incrível de crescimento para as nações que desejam assumir um papel importante nesse cenário.
Não sabemos quanto dessa transação será uma conversão de tecnologias antigas ou produtos baseados na indústria velha, que serão convergidos para a indústria 4.0. Mas, sem ser um especialista em economia, eu entendo que o impacto pode ser grande, caso o Brasil não se posicione muito bem diante dessa era da transformação.
Como falei no começo deste artigo, o Brasil tem suas vocações e possui mercados com muito potencial para o emprego da IA. O crescimento da produção agrícola brasileira é um exemplo em todo o mundo e o gradua a uma das maiores nações exportadoras de alimentos no mundo.
O desafio de entregar saúde de qualidade para os quase 220 milhões de habitantes é outro ponto onde o Brasil apresenta grande potencial de geração de dados, bem como o mercado de geração de energia limpa e renovável, em que nosso país possui iniciativas importantes de energia fotovoltaica e eólica.
Mas o que falta para o Brasil assumir um papel de protagonismo no mundo da inteligência artificial, principalmente para os mercados onde atua? Vou enumerar alguns pontos:
- Falta de criação de tecnologia de base – Nesse caso, a tecnologia de base é a fase anterior da implementação, ou seja, a era da descoberta que já passou e foi liderada pelos países listados. Podemos dizer que a tecnologia de base já existe, inclusive para todos e não apenas para quem é de uma área específica. Logo, esse é o risco das empresas tradicionais, que podem perder o time para companhias que nunca atuaram nessas áreas, apenas por se aproveitarem da tecnologia que já está pronta;
- Falta de coragem em disponibilizar dados – A falta de coragem, ou o excesso em compartilhar esse conhecimento, não garante a continuidade dos negócios, muito pelo contrário, é o tempo que as empresas concorrentes ou startups precisam para sair com algo que irá substituir esses serviços oferecidos de forma ultrapassada ou não inovadora;
- Falta de analisar o mercado de forma mais ampla – Você talvez não conheça o termo “concorrência transversal”, mas ele está muito presente nos mercados onde a inovação acontece. Conhece empresas que praticamente foram extintas por concorrentes que elas nem conheciam? Esse é o caso da Kodak, que tomou os primeiros golpes na criação das câmeras fotográficas digitais, mas desapareceu do mapa com o crescimento da oferta de smartphones em todo o mundo. Sua empresa pode ser extinta por um concorrente que nem conhece ainda, mas que ofereça um negócio disruptivo, com muita entrega de valor, preços baixos e emprego de tecnologia de ponta.
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Por onde começar?
O que precisamos agora são esforços, incentivos governamentais e coparticipação das indústrias para a transformação de algoritmos e dados em produtos e serviços. Mas esses esforços são urgentes e, mesmo que imperfeitos, precisam começar agora.
Depois de perdermos a oportunidade de estarmos presentes em outros movimentos de renovação do mercado mundial, devemos permanecer alertas para agarrarmos as novas oportunidades trazidas pela IA.
Edison Figueira
Edison Figueira é Head de Inovação na Fortics de Tecnologia, especialista em segurança cibernética, com mais de 25 anos de experiência se dedicando a projetos avançados de Inteligência Artificial com Machine Learning, Deep Learning e NLU / NLP. Seu principal foco é desenvolver tecnologias, criar e gerenciar times para desenvolver produtos inovadores que possam tornar essas tecnologias cada vez mais acessíveis a todos os portes de empresas.
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